sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

MANO BETO, QUANTA SAUDADE!


Boa noite amigos,

"A CASA DA SAUDADE CHAMA-SE MEMÓRIA: É UMA CABANA PEQUENINA A UM CANTO DO CORAÇÃO"  COELHO NETO.






Ele era o caçula da prole de cinco irmãos. Ficou pouco entre nós. Apenas 27 anos. Foi embora sem aviso e sem estardalhaço, num 7 de dezembro, perto do Natal. Estava numa festa de casamento, do qual fora padrinho.  Dono de um imenso coração, foi esse  coração  que, danado, parou, cansado por tanto esforço a que foi submetido, ou por excesso de  piedade e emoções. Todo ano, quando chega o Natal eu me lembro dele. Faz muita falta na nossa vida, apesar de ter ido embora há quase 25 anos. Viveu intensamente esses vinte e sete anos. Eu suspeitava – e fundamentadamente – que ele tinha pressa de viver, para fazer o máximo na vida. Ou, quem sabe, da vida. Vida intensa em todas as vertentes.Vida com breve data de validade.  As mulheres da família ou fora dela, gostavam dele. Era gentil, cavalheiro e sedutor.  Só tinha boca para elogios. Reparava no cabelo cortado ou tingido, nas unhas cuidadosamente pintadas, no vestido novo decotado, que valorizava o corpo feminino. Aos amigos era exemplo: de lealdade, solidariedade, otimismo. Tino comercial aguçado fazia sucesso nas suas vendas, como representante comercial. Dizia que era comerciante por natureza e que formação intelectual era para nós,  os outros irmãos. A mim, o mais velho, chamava de doutor. Um doutor carinhoso, que ele usava para demonstrar o orgulho que tinha de minha dedicação aos estudos universitários e ao sucesso profissional que experimentava, ainda jovem, na área de minha atuação, a advocacia e a docência.  E também talvez para se redimir do “empréstimo”, sem autorização, que ele fazia muitas noites, mancomunado com o Rui Pires, de meu adorado fusca 65, depois que eu ia dormir, para se divertirem pela madrugada afora. Artista da alma, em todos os encontros pegava o indefectível violão e com ele cantava, romanticamente e  de olhos fechados, as melhores canções da época. Sensibilidade e caráter imensos. No seu concorrido velório, um senhor idoso chamava a atenção da família. Cabelos brancos, chorava de forma copiosa. A família não o conhecia. Depois se aproximou de mim. Confirmando ser eu o irmão mais velho do defunto, contou sua história com o mano. Eram vizinhos no mesmo prédio  modesto da Vila Industrial.   O senhor, apesar de uma vida relativamente tranquila, passava por sérias dificuldades financeiras, no ocaso da existência. Ele e a sua velha. A sua querida companheira de tantos anos. Seu irmão, o Beto, que morava no andar de baixo, praticamente todas as noites ia nos buscar pretextando companhia para o jantar, sob os mais diversos fundamentos:  ora o  churrasquinho que resolvera de última hora, ora,  um prato especial que a esposa, Cidinha,  resolvera fazer. A voz embargou e o senhor concluiu:  Ciente das nossas  dificuldades,  nos alimentava praticamente todos os dias. E o fazia com profunda delicadeza, sem jamais dizer ou insinuar conhecimento de nossa terrível situação. Choramos juntos. Uma alma assim generosa indo embora tão cedo. Mistérios de Deus e dos céus. Coisas do Beto, gente que era gente da melhor espécie. E de quem a gente tem saudade todos os anos, apesar do tempo. Saudade eterna.

Observação Primeira: As duas fotos acima retratam o jovem Roberto Miguel, em setembro de 1.984, dois anos e dois meses antes de seu falecimento, que aconteceu em 7 de dezembro de 1.986. Deixou mulher, Maria Aparecida da Silva Miguel e um filho, Carlos Eduardo Miguel, o  "Cacá", como é chamado na família e que tinha, na época, 1 ano e meio e hoje é advogado na Procuradoria do Município de Jaguariúna,  prestando concurso para ingresso na Magistratura.
Observação Segunda: O Rui Pires, ao qual me refiro, é hoje advogado consagrado, proprietário da Ferreira Pires Advogados, um  dos escritórios mais importantes do Estado de São Paulo e que tem atividade em todo o país. 

Observação Final: O Rui não anda mais de Fusca.

Até amanhã.


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