quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SARAMANDAIA - HIPÉRBOLE E FANTÁSTICO DE DIAS GOMES



Boa noite amigos,


Em distantes aulas de português, no curso médio e que na minha época era chamado de curso ginasial, tínhamos contacto com as chamadas figuras de linguagem. Dentre elas, destacava-se para mim, uma em especial, a “hipérbole”. É figura de retórica na qual o significado da expressão é exagerado, dizia a mestra. E citava exemplos: "Joana esperava loucamente a chegada da primavera". "Maria repetiu um milhão de vezes a mesma ladainha". "Pedro quase morreu de rir".  Tais expressões são usadas para enfatizar um sentimento, um esforço, uma reação. E se são usadas na linguagem coloquial, também a figura é explorada em obras de arte, no cinema, no teatro, na literatura.  No ano de 1.976, a TV Globo exibiu, no horário das 22,00 horas, uma telenovela do saudoso escritor e dramaturgo, Dias Gomes, denominada SARAMANDAIA.  A telenovela, que foi grande sucesso, é lembrada até hoje. O roteiro tem como palco a cidade de Bole-Bole, na zona canavieira do interior da Bahia, em que parte de seus cidadãos, os chamados mudancistas,  dentre os quais João Gibão e o Prefeito Lua Viana (estréia na TV do ator Antonio Fagundes) querem mudar o nome da cidade para Saramandaia, pois se sentem envergonhados pela origem do nome Bole-Bole, relacionado com uma aventura de D. Pedro I. De outro,  os coronéis tradicionais que invocam motivos históricos para manter o nome. À margem do tema central, o autor explora características fantásticas de seus personagens. João Gibão (Juca de Oliveira), possui asas e no último capítulo sai voando, realizando o sonho de Ícaro, personagem da mitologia.   O coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) solta formigas pelo nariz. Dona Redonda (a saudosa Wilza Carla, recentemente falecida), explode de tanto comer; Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) ameaça cuspir o coração toda vez que se emociona; Marcina (Sonia Braga), quando excitada, fica em brasa, queimando tudo o que encosta, e o professor Aristóbulo (o ótimo Ary Fontoura), além de virar lobisomen, há anos que não dorme, tendo em suas andanças noturnas se encontrado com D. Pedro I (vivido por Tarcísio Meira) e Tiradentes (participação especial de Francisco Cuoco). Uma das cenas mais lembradas da novela é aquela em que Dona Redonda explode de tanto comer, deixando um enorme buraco no meio  da praça (Vide imagem que abre a coluna emprestada de www.purepeople.com.br).


Na trilha sonora o destaque é para o cantor e compositor Ednardo, que se tornou nacionalmente conhecido, com o seu “Pavão Mysteriozo” tema de abertura da novela. Os autores,  do  gênero conhecido nas artes como “fantástico”,  utilizam muito comumente três figuras de linguagem,  quais sejam,  a metáfora, a hipérbole e a metamorfose. E a hipérbole ainda tem homenagem do não  menos saudoso Cazuza, no seu ótimo "Exagerado". E  eu, com algum exagero,  aprecio o gênero, especialmente  quando explorado em obras bem acabadas como as de Dias Gomes e do nosso grande Murilo Rubião (não deixem de ler, se não leram o seu “O Pìrotécnico Zacarias”).

Um abraço. 

P.S. (1) A segunda imagem da coluna é de João Gibão (Juca de Oliveira), empreendendo o seu vôo e foi emprestada do site www.teledossie.com.br.








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