segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CRÔNICA - O GRITO EM BUENOS AIRES


Viagem internacional virou “carne de vaca”. A expressão, comum na minha infância e mocidade lá pelos anos 50/60,  é uma gíria típicamente paulista que significa coisa comum, banal e, pois, popular e  acessível a todo mundo, pelo menos aos ricos e remediados. Bons tempos aqueles, embora eu acredite que a carne de vaca hoje esteja mais fácil e mais  barata do que naquela época. Na nossa vizinha Argentina, a Presidente Kirchner até criou um programa similar ao nosso Bolsa-Família. Trata-se do Bolsa “Carne de Vaca”, que consiste em fornecer aos mais necessitados, um tanto de carne bovina subsidiada pelo governo. Bem o fato é que antigamente era impensável que nós, da classe média, pudéssemos ter automóveis, computadores, celulares e viajar de avião. Viajar para o estrangeiro como também se dizia. Mal a gente podia visitar uns parentes em Sumaré, Americana ou na capital. Já era muito. Quando o professor de ciências da minha escola resolveu fazer uma viagem, supostamente educativa, para a vizinha cidade de Limeira, consegui, com muito custo, autorização do meu pai (e uma graninha para pagar a viagem e o almoço),  para a “grande empreitada”. Sim, empreitada significativa pois sairíamos de ônibus, pela manhã, lá da porta da escola, visitaríamos a famosa Festa da Laranja de Limeira e voltaríamos lá pelo fim da tarde. Passei três noites sem dormir direito, meio emocionado, sonhando com a viagem. Pois bem, há uns 10 ou 15 anos, indiscutivelmente nós brasileiros, com a valorização de nossa moeda (o real), a contenção da inflação, a nossa estabilidade política e o desempenho da economia, estamos viajando para o exterior. Eta, nóis. As passagens aéreas ficaram mais baratas, pela competição entre as empresas. E há parcelamentos e promoções. Antes íamos, de ônibus à Foz do Iguaçu, deliciávamos com as Cataratas,  dávamos um pulinho no Paraguai e na Argentina, ali pela fronteira mesmo e trazíamos algumas bugigangas (especialmente whisky falso, blusas de couro ou de cashemere), rezando para que não fossemos parados pela Polícia Rodoviária Federal em Cascavel, no Paraná, porque julgávamos que aqueles poucas tranqueiras nos convertesse em sonegadores perigosos. Eta inocência!  Depois passamos a viajar de avião e ao invés de Puerto Iguazu, vamos mesmo a Buenos Aires, ouvir tangos, apreciar os magníficos cortes de carne bovina e os vinhos de Mendonza. Há excursões para todos os cantos: Disneyword para as crianças de todas as idades, Cáncun, depois Londres, Paris, etc. etc. O pessoal mais velho que tinha “ralado” para estudar os filhos e economizado uma graninha, ‘tava podendo’ fazer uma viagem internacional. Mesmo que fosse meio perto. A Reny e o Cizinho pegaram uma excursão para Buenos Aires, incentivados pelos filhos casados  e amigos. Foi um custo convencê-los a gastar a grana e a viajar de avião. A Reny começou  a rezar o terço uma semana antes. E quando o veículo gigante levantou vôo os dois se abraçaram. Meio comovidos, meio acovardados. Mas a coisa foi bem e o avião chegou a Buenos Aires. Depois de acomodados no Hotel, foram dormir, pois no outro dia, havia uma city-tour imperdível pela bela cidade portenha. A Reny acordou animada. Chamou o Cizinho. Bateu na porta do quarto dos amigos que também viajaram e lá foram tomar café. Farto café de hotel três estrelas. Seguiram para o ônibus. A guia falava em português e ficava fácil entender. A cada ponto turístico e explicações fazia um olhar de sincero interesse, embora não entendesse tudo. Ficou animada. Eis que ao chegarem ao Parque Rivadavia, onde se encontra o monumento em homenagem a Simon Bolivar, considerado o libertador da América (vide imagem que ilustra a coluna hoje), obra do arquiteto argentino José Fioravanti, a Reny, num arroubo de entusiamo, gritou para o Cizinho que estava um pouco distante.- Cizo, vem cá:  Foi aqui que  o hóme deu o grito?

P.S. (1)  O “hóme” era D. Pedro II.

P.S. (2) O grito era o do Ipiranga, São Paulo, Brasil.

Eta nóis!

Até amanhã.

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