quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MORREU WANDO - FOGO E PAIXÃO


Amigos,

Morreu ontem, em Minas Gerais, aos 66 anos,  Wanderley Alves dos Reis, batizado com o nome artístico de WANDO. Cantor e compositor desde a década de 70, quando estourou em todo o Brasil, com uma música romântica chamada “Moça”, Wando vendeu mais de 10 milhões de discos na sua carreira e é considerado como um dos mais legítimos representantes da música  romântica brega. Mas quem não cantou, ou ainda canta, seja no banheiro, em qualquer outro canto da casa, em festinhas, ou especialmente nos Karaokes da vida, aquele estribilho que diz: “Eu quero enrolar nos teus cabelos/ Abraçar teu corpo inteiro/ Morrer de amor/ de amor me perder” . Eu, em particular, tinha uma favorita para cantar em Karaoke. Era Fogo e Paixão, fácil, fácil para o meu curto tom de voz e a minha tendência de ir gradativamente desafinando:  “Você é luz/ É raio, estrela e luar/ Manhã de Sol/ Meu Iaiá, meu ioiô/ Você é sim/ E nunca meu não/ Quando tão louca/ Me beija na boca/  Me ama no chão”. Com o tempo, a inocência das letras das canções, foi ganhando conotação mais picante e erótica e tendo o cantor percebido que isso agradava as mulheres de todas as idades, passou então a explorar nas suas canções ou gravações esse lado mais sensual e que dava "asas à imaginação". Com o aparecimento dos clipes, suas canções ganharam então imagens de gente jovem e bonita, homens e mulheres em trajes íntimos, espalhados em banheiras cheia de flores, florais, com champagne, taças, beijos, abraços e sussurros. Pronto. O estilo estava marcado e consagrado. Aliado a isso o cantor passou a declarar que durante seus shows as mulheres mais exaltadas ou mais apaixonadas atiravam calcinhas que ele cheirava  no palco e colecionava depois. Determinado noticiário de ontem garante que a sua coleção de calcinhas femininas atinge mais de 15.000 peças de todas as cores. E a julgar pelas senhoras robustas que ontem, no velório, cantavam suas músicas e juravam fidelidade a ele e ao seu estilo, ao seu suposto amor pelo universo feminino, também devia ter carçolas como diria o meu genro, Renato, ao referir-se a calcinhas de certas senhoras de glúteos avantajados. Wando também passou a usar nas suas apresentações peças, coisas e objetos sugeridos pela letra das  músicas, como você pode ver no vídeo abaixo em que ele interpreta a canção “Mordida na Maça”, portando, numa das mãos, a tal  fruta que levou Adão e Eva ao pecado e pra fora do paraíso. E de vez em quando morde e arranca um pedaço da pobre maça,  entre uma e outra pausa musical. De certa forma, aquela figura de traços grandes, lábios grossos e cabelo armado combinava com as sugestões das letras de suas músicas, todas levando para a paixão, o amor, o sexo, o desejo, o prazer. Tudo, porém, era uma imensa brincadeira, garantem os seus amigos mais chegados. E há quem assegure que ele era inclusive um sujeito tímido, educado e respeitador. Isso nada tem de incongruente em  unir ao prazer da música, a imaginação onírica dos prazeres do amor, muito bem vindos nessa vida da gente. Porque como diria Chico, em Roda Viva, "tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu".  Em sua biografia, seu estilo musical vem assinalado como samba-jóia e romântico brega. O samba-jóia (ou sambão-jóia, ou somente sambão) é  nome dado por críticos na década de 70 para identificar sambas de qualidade duvidosa, por unir vários gêneros como samba-rock com soul music, bolero e jovem guarda. Seus maiores sucessos foram O Importante é Ser Fevereiro, gravada por Jair Rodrigues, em 1.974; Vá,  mas Volte, gravação de Angela Maria em 1.975; A Menina e o Poeta, gravada por Roberto Carlos em 1.976;  Moça (1975), Chora Coração (1.985), que integrou a trilha sonora da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes, grande sucesso da TV Globo,  e Fogo e Paixão (1988), estas gravadas por ele próprio.  De minha parte o preconceito quanto ao tipo de música feita e explorada pelo artista não tem qualquer importância. Afinal, rótulos são rótulos, meros fragmentos que não dão conta da inteireza e complexidade da pessoa ou do profissional.  Afinal, quando Caetano Veloso gravou Coração de Mãe de Vicente Celestino, num disco antológico do movimento Tropicalista, nada mais fez do que cutucar a suposta elite que invoca o direito ao monopólio do bom gosto ou da definição do  que seja arte, homenageando aquele que até então era considerado o rei do brega. Caro Wando, Importante é a alegria que o seu canto proporcionou. Mais de 6.000 pessoas passaram por seu discreto velório em Minas. Milhões no Brasil já cantaram suas canções, sonhando com dias melhores. Você morreu em fevereiro. Justo em fevereiro do samba que você fez quando era moço. Fevereiro, o  mês  do samba, da alegria e do carnaval. Certo que você não mudou de idéia. Foi-se embora logo e sem alarde, para que as pessoas não ficassem tristes. Afinal, Deus também concorda que  “O Importante é ser fevereiro. E ter carnaval pra gente sambar”.
















Até qualquer dia, bom mineiro.

Até amanhã amigos.

 P.S. A imagem que ilustra a coluna de hoje foi emprestada do site correiodeuberlandia.com.br




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