sábado, 7 de abril de 2012

FRANCISCO ISOLINO DE SIQUEIRA - O FILHO DE DONA MAURA

Boa noite amigos,
Nesta quarta-feira quando cheguei à Procuradoria Geral na Unicamp recebi a notícia do falecimento do Dr. Francisco Isolino de Siqueira. O ambiente, entre os funcionários e procuradores mais antigos, era de consternação. Senti, naquele momento, o  quanto  Chico era estimado por aqueles que trabalharam com ele, nos tempos em que foi Procurador Chefe daquela Universidade. Mas essa história eu não conheço. Conheço a minha história com o Chico Isolino, como a gente o chamava, nos momentos de proximidade e intimidade que ele nos conferia, por seu jeito simples e direto, afetivo e aconchegante, o que não nos permitia, antes dispensava, qualquer cerimônia. Ouvi falar de Isolino por sua mãe, a saudosa Dona Maura. Quando viemos para Campinas, nos idos de 1.958, meu pai comprou um pequeno armazém (como eram nominados, na época, os empórios de bairros), no Taquaral, ali na Rua Amélia Bueno. Dona Maura morava bem em frente e era uma senhora bondosa, já viúva do Professor Hildebrando Siqueira, um respeitado professor e pedagogo da cidade. Chico era o filho mais velho, casado e que não residia ali. Quase todos os outros ainda moravam naquela velha casa que de forma inimaginável acolhia todos os filhos de Dona Maura. E eram dezenas. A maioria esmagadora de mulheres. Todas Marias em homenagem a Nossa Senhora: Maria Zélia, Maria Isabel, Maria Tereza, Maria da Glória, Maria do Carmo, Maria de Lourdes. E claro todos as chamavam pelo segundo nome: Lourdinha, Carminha, Zélia, Isabel, Tereza etc. etc.Dona Maura ministrou aulas de catecismo para mim e para meu irmão Toninho. E por suas mãos e suas palavras doces, seus santinhos com os quais nos brindava ao término das aulas que eram ministradas ali na área, sentados, nós e ela, naquelas muretinhas de alvenaria, fizemos a primeira comunhão na Igreja Nossa Senhora de Fátima, sob a batuta do Padre Milton Santana. Apesar da amizade com todos da família, não conheci o Chico naquela ocasião. Aos 14 anos, quando comecei a trabalhar no Cartório do 5º Ofício de Campinas, no Palácio da Justiça do Largo do Rosário é que passei a ter contato com as personalidades do mundo jurídico da cidade: Juízes, Promotores e Advogados. Os advogados, sobretudo, não eram tantos, como são hoje. E Chico era um respeitado causídico, cujo escritório conceituadíssimo ficava no edifício da Associação Comercial, na rua José Paulino, bem atrás do Fórum. Advogava para grandes empresários, comerciantes e também para clientes de diversas origens, patrocinando causas cíveis, comerciais e tributárias. Era grande a lista de advogados do corpo jurídico do escritório: Drs. José Carlos e José Eduardo (os irmãos Sanches), José Antonio Trevisan, Sérgio Benedito Siqueira, Maria do Carmo Siqueira, sua irmã e nossa grande amiga e outros.  Fiquei impressionado com a figura de Isolino. Na época ele também escrevia para o Correio Popular e sua coluna era concorrida. Falava de tudo: política, economia, educação, saúde, direito e quotidiano, muito do quotidiano. Mas tudo com um diferencial: a poesia, o otimismo, o sonho, a grande alegria que transmitia pela vida e pelas causas sociais que abraçava. Já o admirava e respeitava muito, quando entrei para o curso de Direito, na nossa querida Puc, e já no primeiro ano tive o grande prazer de encontrá-lo, agora numa relação professor-aluno, como Mestre na disciplina Economia Política, constante do currículo do curso. Suas aulas eram o reflexo de sua figura carismática.  Transmitia lições de economia política de forma leve e suave, com conotação de alegria e poesia. Depois disso continuamos nos cruzando pela vida: como colegas advogados, como Juiz e advogado, como colegas Professores de Direito da Puc. Há anos, porém, nossos encontros passaram a rarear, mesmo porque Chico praticamente aposentado, levava uma vida mais regrada e caseira, tratando da família e da saúde, um tanto precária. Mas ainda pude revê-lo algumas vezes na Academia Campineira de Letras, para a qual foi eleito e se tornou, de forma meritória, imortal. Agora Chico se foi. Não fui ao seu velório. Estou aqui na praia desde 4ª. Feira, ensaiando para escrever sobre ele. Não é fácil. Foram tantos os seus predicados. Tantas as suas obras e ações. Tanta a sua relevância como jornalista, advogado, professor, católico, amigo, parente, filantropo, marido, pai, avô, que num curto espaço fica difícil escolher o que dizer – e, sobretudo, as palavras adequadas para expressar o sentimento da gente nesta hora. Com Chico aprendi muita coisa. E um inesquecível advérbio de intensidade: GOSTOSAMENTE. E era gostosamente que Chico encarava a vida e  os tantos prazeres por ela proporcionados. Os revezes? Bem, esses ele os encarava com coragem, confiança, resignação e uma profunda  confiança em Deus. Descobri hoje, fuçando no google, que Chico também tinha um blog (isolinodesiqueira.blogspot.com).  E que era corintiano, coisa que eu também nunca soube. Em sua homenagem, reproduzo aqui uma frase sua, que está na apresentação de seu blog, para cuja leitura convidava os amigos e que bem resume o seu amor e gratidão pela vida:
“Se eu pudesse recomeçar eu procuraria fazer meus sonhos ainda mais grandiosos porque essa vida é infinitamente mais bela e esplêndida do que eu pensava, mesmo em sonho” (Francisco Isolino de Siqueira).
Até qualquer dia amigo Chico. Obrigado pela participação importante na minha vida e de tantos outros:conhecidos e anônimos.
Boa noite amigos.
P.S. Ainda outro dia perdemos um outro Chico querido. O Chico Anísio e seus 209 personagens, aos quais criou e atribuiu vida própria. Pois Chico, há 10 anos, teria dito, em uma entrevista: “Tenho pena de morrer”. Um eterno tributo pela vida. Especialidade dos bons Chicos, suponho.

3 comentários:

  1. Professor Jamil,

    Como neto, fiquei muito feliz ao ler o seu texto e descobrir essa história de amizade com meu avô e nossa família.

    Muito obrigado pelas palavras e homenagem. Repassarei à minha avó e a todos em casa. Com certeza se emocionarão, como eu.

    grande abraço,
    Bruno Siqueira Brocchi

    ps: a assinatura do comentário é do Blog do meu avô, pois fomos nós que o criamos para publicar suas crônicas.

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  2. Obrigada Dr. Jamil

    a familia agradece.


    Cristina Salek de Siqueira .

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  3. Dr. Jamil

    Minha mãe, Maria Zelia, leu sua homenagem ao irmão dela e ficou emocionada.
    Pediu para agradecer em nome das Marias.

    Abraços, Deus o abençoe
    Rosana Siqueira

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