Boa noite amigos,
Nesta quarta-feira
quando cheguei à Procuradoria Geral na Unicamp recebi a notícia do falecimento
do Dr. Francisco Isolino de Siqueira. O ambiente, entre os funcionários e
procuradores mais antigos, era de consternação. Senti, naquele momento, o quanto
Chico era estimado por aqueles que trabalharam com ele, nos tempos em
que foi Procurador Chefe daquela Universidade. Mas essa história eu não
conheço. Conheço a minha história com o Chico Isolino, como a gente o chamava,
nos momentos de proximidade e intimidade que ele nos conferia, por seu jeito
simples e direto, afetivo e aconchegante, o que não nos permitia, antes
dispensava, qualquer cerimônia. Ouvi falar de Isolino por sua mãe, a saudosa
Dona Maura. Quando viemos para Campinas, nos idos de 1.958, meu pai comprou um pequeno
armazém (como eram nominados, na época, os empórios de bairros), no Taquaral,
ali na Rua Amélia Bueno. Dona Maura morava bem em frente e era uma senhora
bondosa, já viúva do Professor Hildebrando Siqueira, um respeitado professor e
pedagogo da cidade. Chico era o filho mais velho, casado e que não residia ali.
Quase todos os outros ainda moravam naquela velha casa que de forma
inimaginável acolhia todos os filhos de Dona Maura. E eram dezenas. A maioria
esmagadora de mulheres. Todas Marias em homenagem a Nossa Senhora: Maria Zélia,
Maria Isabel, Maria Tereza, Maria da Glória, Maria do Carmo, Maria de Lourdes.
E claro todos as chamavam pelo segundo nome: Lourdinha, Carminha, Zélia,
Isabel, Tereza etc. etc.Dona Maura ministrou aulas de catecismo para mim e para
meu irmão Toninho. E por suas mãos e suas palavras doces, seus santinhos com os
quais nos brindava ao término das aulas que eram ministradas ali na área,
sentados, nós e ela, naquelas muretinhas de alvenaria, fizemos a primeira
comunhão na Igreja Nossa Senhora de Fátima, sob a batuta do Padre Milton
Santana. Apesar da amizade com todos da família, não conheci o Chico naquela
ocasião. Aos 14 anos, quando comecei a trabalhar no Cartório do 5º Ofício de
Campinas, no Palácio da Justiça do Largo do Rosário é que passei a ter contato
com as personalidades do mundo jurídico da cidade: Juízes, Promotores e
Advogados. Os advogados, sobretudo, não eram tantos, como são hoje. E Chico era
um respeitado causídico, cujo escritório conceituadíssimo ficava no edifício da
Associação Comercial, na rua José Paulino, bem atrás do Fórum. Advogava para
grandes empresários, comerciantes e também para clientes de diversas origens,
patrocinando causas cíveis, comerciais e tributárias. Era grande a lista de
advogados do corpo jurídico do escritório: Drs. José Carlos e José Eduardo (os
irmãos Sanches), José Antonio Trevisan, Sérgio Benedito Siqueira, Maria do
Carmo Siqueira, sua irmã e nossa grande amiga e outros. Fiquei impressionado com a figura de Isolino.
Na época ele também escrevia para o Correio Popular e sua coluna era
concorrida. Falava de tudo: política, economia, educação, saúde, direito e
quotidiano, muito do quotidiano. Mas tudo com um diferencial: a poesia, o
otimismo, o sonho, a grande alegria que transmitia pela vida e pelas causas
sociais que abraçava. Já o admirava e respeitava muito, quando entrei para o
curso de Direito, na nossa querida Puc, e já no primeiro ano tive o grande
prazer de encontrá-lo, agora numa relação professor-aluno, como Mestre na
disciplina Economia Política, constante do currículo do curso. Suas aulas eram
o reflexo de sua figura carismática.
Transmitia lições de economia política de forma leve e suave, com
conotação de alegria e poesia. Depois disso continuamos nos cruzando pela vida:
como colegas advogados, como Juiz e advogado, como colegas Professores de
Direito da Puc. Há anos, porém, nossos encontros passaram a rarear, mesmo
porque Chico praticamente aposentado, levava uma vida mais regrada e caseira, tratando
da família e da saúde, um tanto precária. Mas ainda pude revê-lo algumas vezes
na Academia Campineira de Letras, para a qual foi eleito e se tornou, de forma
meritória, imortal. Agora Chico se foi. Não fui ao seu velório. Estou aqui na
praia desde 4ª. Feira, ensaiando para escrever sobre ele. Não é fácil. Foram
tantos os seus predicados. Tantas as suas obras e ações. Tanta a sua relevância
como jornalista, advogado, professor, católico, amigo, parente, filantropo,
marido, pai, avô, que num curto espaço fica difícil escolher o que dizer – e,
sobretudo, as palavras adequadas para expressar o sentimento da gente nesta
hora. Com Chico aprendi muita coisa. E um inesquecível advérbio de intensidade:
GOSTOSAMENTE. E era gostosamente que Chico encarava a vida e os tantos prazeres por ela proporcionados. Os
revezes? Bem, esses ele os encarava com coragem, confiança, resignação e uma
profunda confiança em Deus. Descobri
hoje, fuçando no google, que Chico também tinha um blog
(isolinodesiqueira.blogspot.com). E que
era corintiano, coisa que eu também nunca soube. Em sua homenagem, reproduzo
aqui uma frase sua, que está na apresentação de seu blog, para cuja leitura
convidava os amigos e que bem resume o seu amor e gratidão pela vida:
“Se eu pudesse recomeçar eu procuraria fazer meus sonhos
ainda mais grandiosos porque essa vida é infinitamente mais bela e esplêndida
do que eu pensava, mesmo em sonho” (Francisco Isolino de Siqueira).
Até qualquer dia
amigo Chico. Obrigado pela participação importante na minha vida e de tantos
outros:conhecidos e anônimos.
Boa noite amigos.
P.S. Ainda outro
dia perdemos um outro Chico querido. O Chico Anísio e seus 209 personagens, aos
quais criou e atribuiu vida própria. Pois Chico, há 10 anos, teria dito, em uma
entrevista: “Tenho pena de morrer”. Um eterno tributo pela vida. Especialidade
dos bons Chicos, suponho.
Professor Jamil,
ResponderExcluirComo neto, fiquei muito feliz ao ler o seu texto e descobrir essa história de amizade com meu avô e nossa família.
Muito obrigado pelas palavras e homenagem. Repassarei à minha avó e a todos em casa. Com certeza se emocionarão, como eu.
grande abraço,
Bruno Siqueira Brocchi
ps: a assinatura do comentário é do Blog do meu avô, pois fomos nós que o criamos para publicar suas crônicas.
Obrigada Dr. Jamil
ResponderExcluira familia agradece.
Cristina Salek de Siqueira .
Dr. Jamil
ResponderExcluirMinha mãe, Maria Zelia, leu sua homenagem ao irmão dela e ficou emocionada.
Pediu para agradecer em nome das Marias.
Abraços, Deus o abençoe
Rosana Siqueira