Bom dia amigos,
Seu canto é rouco,
excluído de qualquer padrão es-
tético conhecido, sem paralelo entre as cantoras brasileiras. Coreografia de palco impressionante, estilo selvagem, lembra cantoras afro norte-americanas, como Bessie Smith. Seu nome: CLEMENTINA DE JESUS, também conhecida como Rainha Quelé ou Tina. Não foi à escola para aprender técnica vocal. Gravou, ao longo de sua carreira, 9 LPS e 3 compactos, tendo participado de discos com outros artistas, dentre os quais o badalado Milton Nascimento. Começou a carreira artística aos 63 anos de idade, quando foi descoberta pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho que, encantado com a sua forma de cantar e seu timbre peculiar de voz, a levou para o espetáculo Rosas de Ouro. Nele contracenava com a cantora Araci Cortes, de teatro de Revista, e com acompanhantes jovens, como Paulinho de Viola, Elton Medeiros e Nelson Sargento, dentre outros. Durante mais de 20 anos foi empregada doméstica de uma mesma família. Enquanto lavava, passava e realizava tarefas domésticas, cantava. Nascida em Valença, Estado do Rio, a 7 de fevereiro de 1.902, ainda menina, acompanhava sua mãe, Dna. Amélia, com a incumbência de acender seu cachimbo. Dona Amélia, enquanto lavava roupa, fumava e entoava cantos que a filha registraria, em seu peculiar e diversificado repertório, cinqüenta anos mais tarde. Destacam-se, nesse repertório baseado nas músicas de sua infância e mocidade, os cantos de trabalho, entoados pelos escravos em sua lida nas fazendas, as rezas dedicadas aos mortos (incelências), o jongo, pó partido alto e também os sambas mais modernos de João Bosco, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, dentre outros. Sua ancestralidade africana transmitiu-lhe o legado de conhecimento e reprodução do riquíssimo folclore dos terreiros, aos quais emprestou linguagem urbana e contemporânea. Clementina pode ser considerada o retrato do sincretismo brasileiro. Rezas em gegê e nagô e contos em ioruba que ouvia da mãe, além de hinos católicos cantados no coro da igreja, pontos de candomblé e sambas de roda das festas das quais participava, também foram estilos que ela incorporou de forma intensa e magistral. Não foi grande vendedora de discos e Carlos Calado,crítico musical, chegou a afirmar, em desabafo, acerca da pouca difusão da obra da cantora que “irônico e triste, mas em certos países, as bijuterias valem mais do que os diamantes brutos”. Diamante bruto seja talvez a melhor definição do estilo grave, potente e selvagem de Tina, a Rainha Quelé Clementina. Em julho de 1.987, aos 85 anos de idade, a cantora veio a falecer no Rio de Janeiro, deixando um vazio na música popular afro-brasileira de raiz, mas registrada, tanto quanto possível e para a posteridade, a força de uma raça e do sincretismo do nosso povo. Ainda não tinha me dado conta que agora, em1.912, a
EMI tinha lançado esse magnífico CD que
traz, em essência, a obra de Clementina, não toda, à evidência, mas o
suficiente para mostrar um pouco de seu trabalho e de seu legado. Ganhei-o de
presente da querida amiga,colega de PUC, a professora Maria Helena de Carvalho,
que conhece o meu gosto musical e minha especial afeição por essa respeitável
senhora que foi empregada doméstica e rainha.
tético conhecido, sem paralelo entre as cantoras brasileiras. Coreografia de palco impressionante, estilo selvagem, lembra cantoras afro norte-americanas, como Bessie Smith. Seu nome: CLEMENTINA DE JESUS, também conhecida como Rainha Quelé ou Tina. Não foi à escola para aprender técnica vocal. Gravou, ao longo de sua carreira, 9 LPS e 3 compactos, tendo participado de discos com outros artistas, dentre os quais o badalado Milton Nascimento. Começou a carreira artística aos 63 anos de idade, quando foi descoberta pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho que, encantado com a sua forma de cantar e seu timbre peculiar de voz, a levou para o espetáculo Rosas de Ouro. Nele contracenava com a cantora Araci Cortes, de teatro de Revista, e com acompanhantes jovens, como Paulinho de Viola, Elton Medeiros e Nelson Sargento, dentre outros. Durante mais de 20 anos foi empregada doméstica de uma mesma família. Enquanto lavava, passava e realizava tarefas domésticas, cantava. Nascida em Valença, Estado do Rio, a 7 de fevereiro de 1.902, ainda menina, acompanhava sua mãe, Dna. Amélia, com a incumbência de acender seu cachimbo. Dona Amélia, enquanto lavava roupa, fumava e entoava cantos que a filha registraria, em seu peculiar e diversificado repertório, cinqüenta anos mais tarde. Destacam-se, nesse repertório baseado nas músicas de sua infância e mocidade, os cantos de trabalho, entoados pelos escravos em sua lida nas fazendas, as rezas dedicadas aos mortos (incelências), o jongo, pó partido alto e também os sambas mais modernos de João Bosco, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, dentre outros. Sua ancestralidade africana transmitiu-lhe o legado de conhecimento e reprodução do riquíssimo folclore dos terreiros, aos quais emprestou linguagem urbana e contemporânea. Clementina pode ser considerada o retrato do sincretismo brasileiro. Rezas em gegê e nagô e contos em ioruba que ouvia da mãe, além de hinos católicos cantados no coro da igreja, pontos de candomblé e sambas de roda das festas das quais participava, também foram estilos que ela incorporou de forma intensa e magistral. Não foi grande vendedora de discos e Carlos Calado,crítico musical, chegou a afirmar, em desabafo, acerca da pouca difusão da obra da cantora que “irônico e triste, mas em certos países, as bijuterias valem mais do que os diamantes brutos”. Diamante bruto seja talvez a melhor definição do estilo grave, potente e selvagem de Tina, a Rainha Quelé Clementina. Em julho de 1.987, aos 85 anos de idade, a cantora veio a falecer no Rio de Janeiro, deixando um vazio na música popular afro-brasileira de raiz, mas registrada, tanto quanto possível e para a posteridade, a força de uma raça e do sincretismo do nosso povo. Ainda não tinha me dado conta que agora, em
O CD RAINHA QUELÉ CLEMENTINA DE JESUS (CAPA ACIMA), TRAZ
CLEMENTINA:
A) Na sua versão solo,
com as faixas Incompatibilidade de Gênios,
um gracioso samba de João Bosco, os
conhecidos sambas Marinheiro Só, de Caetano
Veloso, Essa Nega Pede Mais e Na Linha do Mar, do excelente
Paulinho da Viola, Na hora da Sede ,
de Luiz Américo e Braguinha, Moro na Roça, de Xangô da Mangueira e
Jorge Zagaia, Esta Melodia, de
Jamelão e Bubu, Graças Pardas, de Zé
da Zilda e Cartola e Saudosa Mangueira, de
Heriveldo Martins;
B) Com acompanhantes ilustres nas faixas: PCJ (Partido Clementina
de Jesus), antológico samba de Candeia, com a saudosa Clara Nunes (confira o vídeo abaixo), Circo
Marimbondo, com Milton Nascimento,
Boca de Sapo com João Bosco,
Cocorocó, com Roberto Ribeiro e Torresmo
à Milanesa, com Adoniram Barbosa e Carlinhos Vergueiro.
Obrigado a EMI pela reedição desses sucessos da nossa saudosa
Rainha Quelé.
Obrigado Clementina, por ter existido e cantado para nós as belezas e as raízes de um país preto e branco, africano e brasileiro,
reproduzido nesse seu canto forte e profundo. Relembrando Vinícius "Mas o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração."
Até amanhã amigos,
P.S. (1) Para obter informações mais detalhadas sobre a vida e a
obra de Clementina consultei os sites www.maze.kunghost.net. www.candomble.aspx.;
P.S. (2) Discografia de
Clementina. 1966 – Clementina de Jesus (Odeon MOFB 3463); 1.970 – Clementina,
Cadê Você? (MIS, 013); 1.973 – Marinheiro Só (Odeon, SMOFB, 3087); 1976 –
Clementina de Jesus – Convidado especial Carlos Cachaça (EMI – ODEON SMOFB);
1.979 – Clementina e Convidados (EMI – ODEON). Coletâneas: 1.999 – Raízes do
Samba – Clementina de Jesus (EMI 5226592);
P.S. (3) Todos os membros da
família para quem Clementina trabalhou como doméstica durante mais de
vinte anos apreciavam vê-la cantando durante os trabalhos que realizava. Mas a
dona de casa não. Ela dizia que a voz de Clementina a irritava,pois parecia um
“miado de gato”. Não se pode, como se vê, agradar a todos.
P.S. (4) Há um documentário, que corre pelo Estado da Bahia, do cineasta Werlrinton Kerns sobre a vida e a obra da cantora, fazendo grande sucesso: "Clementina de Jesus - Rainha Quelé"
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