segunda-feira, 23 de abril de 2012

DRAMATURGIA E CINEMA - O MERCADOR DE VENEZA


Boa noite amigos,

William Shakespeare, poeta e dramaturgo, é considerado o maior escritor do idioma inglês.  Nasceu em 26 de abril de 1.564 e morreu em 23 de abril de 1.616. De sua vasta produção, remanesceram 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos e diversos outros poemas. É o dramaturgo mais encenado em todos os tempos. Teatro, televisão, cinema e literatura revisitam com frequência suas obras e lhes dão nova roupagem. Romeu e Julieta (história de amor por excelência), Rei Lear,  Mac Beth, Sonhos de Uma Noite de Verão, são algumas delas. É também de um de seus personagens, Hamlet,  uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that’s the question (Ser ou não ser, eis a questão). Os românticos e os vitorianos o consideravam um gênio.  Perpassou vários movimentos culturais até o século XX, quando continuou a ser respeitado e sua fama chegou ao ápice.



O MERCADOR DE VENEZA

 Uma de sua obras mais polêmicas, o Mercador de Veneza (no original, em inglês, The Merchant of Venice),  se converteu em um filme norte-americano de 2.004.  Com um orçamento de trinta milhões de dólares, o drama dirigido por Michael Radfort relata a história de um nobre, Bassânio (Jeremy Airons), que pretende cortejar e casar  com uma das herdeiras do milionário Belmont, Portia (Lynn Collins), e por isso  envolve o seu melhor amigo, o cristão Antonio (Joseph Fiennes), numa dívida com um judeu, Shilock (Al Pacino), de cerca de três mil ducados. O credor agiota estabelece no pacto que, no caso da dívida não ser paga, ele, credor, terá o direito de extrair 453 gramas da carne do devedor, o que implicará na sua morte, condição que o devedor aceitou, considerando que tinha lastro para liquidar a dívida. Mas os navios dados em garantia foram destruídos e agora o credor quer exercer o seu direito, a qualquer custo. A questão vai aos Tribunais e o filme gira em torno dos debates que se estabelecem em relação ao Direito vigente naquele tempo (final dos anos 1.500, quando a peça foi escrita). É de se recordar que os judeus foram expulsos da Inglaterra em 1.290 e só puderam retornar em 1.655. Daí ter a obra sido acusada de pregar ou estimular o anti-semitismo e, nos territórios nazistas, tornou-se a peça mais popular de Shakespeare. Depois da Segunda Guerra Mundial, a história tornou-se constrangedora e passou a merecer interpretação diversa, inclusive aquela que dá, como no filme,  ao personagem Shylock  um tratamento  mais humano, justificando a sua intransigência e o seu desejo de vingança, nas mazelas a que está exposto, em razão do preconceito, por causa de sua origem e do exercício da agiotagem. A interpretação de Al Pacino é simplesmente fantástica. Não deixe de ver. Indicado também para debates entre estudiosos de Historia, Filosofia, Direito, Psicologia, dentre outras áreas do conhecimento humano,  pela riqueza das questões fundamentais que suscita.

Até amanhã amigos.

P. S. (1) Assinala o jurista Carlos Roberto Gonçalves que na fase inicial do direito das obrigações, o devedor respondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação. Ao devedor insolvente impunha-se um macabro concurso de credores, no qual era morto e seu corpo dividido entre os credores;

P.S. (2) A Lex Poetelia Papiria, de 428 a.c. é citada como o marco para a transformação do direito das obrigações no mundo moderno. Ela aboliu a execução da dívida sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os bens. Hoje a execução das dívidas só se faz sobre o patrimônio do devedor, proibida inclusive a prisão civil, mesmo do depositário infiel (Súmula nº 419 do  Superior Tribunal de Justiça);

P.S. (3) A imagem que ilustra a coluna foi extraída do site izambard.wordpress.com;

P.S. (4) A mais  conhecida peça de Shakespeare é, sem dúvida, Romeu e Julieta, símbolo do amor até as últimas consequências. Em Verona, Itália, onde se passa a tragédia, uma das atrações mais  visitadas  é a "Casa de Julieta", lugar onde supostamente teria vivido a jovem protagonista da obra.

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