Boa noite amigos,
A vocês, neste
sábado de outono, final de março de 2.012, um pouco da poesia de Lya Luft.
Extraída da Obra O Lado Fatal (1988, Editora
Record, reeditada em 2.011), em que a
autora associa um conjunto de poemas sobre a morte.
Escrevendo sobre a obra de 1.988, a
autora diz para a reedição de 2.011:
PORQUE ELE
MORREU
“Porque ele morreu
abriu-se em meu peito este buraco:
através dele arrancaram-me o coração
e colocaram o estranho maquinismo
cheio de lâminas e pontas
que me recorta e preserva
- pois se de um lado a morte me
abraça,
do outro a vida me chama.”
QUANDO ELE
MORREU
não pude acreditar:
andei pelo quarto sozinha repetindo
baixo:
“não acredito, não acredito.”
beijei sua mão ainda morna,
tirei sua pesada aliança de prata com
meu nome
e botei no dedo.
ficou larga demais, mas mesmo assim
eu uso.
Muita gente veio e se foi.
olharam, me abraçaram, choraram,
todos com ar de um incrédula orfandade.
aquele de que hoje falam e escrevem
(ou aos poucos vão-se esquecendo)
é muito menos do que este, deitado no
meu coração,
como um menino que apenas dorme”
NÃO FALEM ALTO
COMIGO
andem sempre na ponta dos pés.
principalmente, não me toquem.
finjam que não veem se tenho um jeito
absorto,
e nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.
Façam silêncio ao meu redor.
não me interessa nada o cotidiano nem
o mistico.
não quero discutir os preços do
mercado
nem os mistérios da vida e da morte
como quem carrega nos braços
uma criança morta
- e a gente não sabe onde
depositar.).
Boa noite amigos e até amanhã.
P.S. (1) A autora é uma consagrada e respeitada escritora, com vasta obra diversificada em romances, ensaios, crônicas e poesias traduzidos para vários países e objeto de muitas dissertações de mestrados e teses de doutoramento aqui no Brasil e no exterior. É tradutora de inglês e alemão, foi professora de Linguística e atualmente assina a coluna Ponto de Vista da Revista Veja.
P.S. (2) Algumas obras consagradas da escritora: O Ponto Cego (1.999), O Rio do Meio (1.996) prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, O Silêncio dos Amantes (2.008), Criança Pensa (literatura infantil escrita em conjunto com o filósofo Eduardo Luft,seu filho em 2.009).
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