Boa noite amigos,
Em 2.006, escrevi este "causo" acontecido
quando eu ainda era escrevente de cartório no Fórum de Campinas. O conto está
no livro Causas & Causos n. I, da editora
Millenium, atualmente com edição esgotada.
JOLUMÁ E A MAQUINA VOADORA.
“Deixemos
que nos invada o sonho de Ícaro. De voar. Voar. Voar para a liberdade. Voar
para fazer Justiça acima dos limites do tempo e do lugar. Que nossas asas,
contudo, não sejam de cera, mas asas que, sólidas, não derretam quando expostas
à luz do sol”(Jamil Miguel).
Jolumá era um simpático
funcionário de Cartório de Registro de Imóveis, cumulando essa função habitual
com a de poeta e radialista.
Habituado à expedição de
certidões, datilografava praticamente o dia todo.
Depois de anos executando
esse serviço, tomara-se um “az” no manejo da máquina, uma velha e potente
“Remington”, que conservava com carinho e absoluto zelo, por décadas.
Gabava-se de ser um dos
mais, senão o mais ágil datilógrafo de toda a Comarca, suposição alimentada
pelo Oficial do Cartório, que vivia elogiando o Jolumá aos demais colegas e,
sobretudo, às visitas, incluindo a do Juiz Corregedor, por ocasião da Correição
anual.
Com o Jolumá a
máquina não anda, corre, ou melhor, voa, dizia o Oficial do Cartório.
Nem tanto Seu
João Luiz, é exagero,respondia o serviçal, sem muita convicção ou falsa
modéstia.
Não é que seus colegas,
capitaneados pelo Rubinho, gozador emérito, resolveram aprontar em cima do
Jolumá e da fama que se espalhara a respeito de seus dotes de exímio
datilógrafo.
No dia marcado para a
correição anual, na presença do novo Juiz Corregedor, o Rubinho vira-se para o
Sr. João Luiz, sugerindo:
_Oi patrão, peça pro
Jolumá fazer uma pequena exibição de seu dom de datilógrafo ao Meritíssimo.
_Ah,
Excelência, não é nada. E que nós temos um funcionário aqui no Cartório, já de meia idade, que “bate à máquina”
uma enormidade e o pessoal admira muito ele.
Com o Jolumá a máquina não anda,
corre, ou melhr voa, Excelência, falaram todos os colegas ao mesmo tempo,
imitando o Escrivão.
_Ô
Jolumá, faça uma pequena demonstração de seus dotes para o para o nosso
estimado Corregedor.
E virando-se para o
Magistrado:
_Isso se
Vossa Excelência não se importar?
Homem que economizava
palavras, meio sisudo, limitou-se o Magistrado a aquiescer com um aceno
positivo.
O Jolumá, cheio de si,
senta-se pomposamente em posição de quem vai cumprir uma árdua e importante
missão.
Um, dois e já!
Dispara a bater a
primeira linha do texto, o que faz muito rapidamente, mas ao dar primeiro toque
para mudar de espaço, o carro da máquina, depois de deslizar completamente,
despreende-se do corpo e voa para fora cerca de dez metros, só parando depois
de se chocar contra a parede.
O Jolumá, o Juiz e o
Escrivão tomaram um susto.
Todos os demais, porém,
rolaram a gargalhar, como que esperando pelo inusitado acontecimento.
É que tinham, sem que ninguém mais o soubesse, soltado os dois
grandes parafusos que prendiam o carro da máquina de escrever ao resto do
equipamento.
Mas o fato é que o
Jolumá, o Juiz e o Oficial do Cartório continuaram com a impressão de que a
máquina, naquela manhã, sucumbira diante do talento e da rapidez do datilógrafo.
E foram espalhando isso,
durante muito tempo, por todos os lugares pelos quais passavam.
—Naquele dia, a máquina
até voou, de verdade, na frente de várias testemunhas, se você duvidar, repetia
o Jolumá."
Até amanhã, amigos.
P.s.: a imagem que ilustra a coluna é do Sr. Idalício, um dos mais antigos funcionários públicos da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e foi emprestada do site: http://www.flickr.com
Até amanhã, amigos.
P.s.: a imagem que ilustra a coluna é do Sr. Idalício, um dos mais antigos funcionários públicos da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e foi emprestada do site: http://www.flickr.com
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