terça-feira, 6 de março de 2012

ARTE E DIREITO - UMA CONEXÃO POSSÍVEL (E DESEJÁVEL)


Boa noite, amigos,

Estou convencido hoje, em plena maturidade, quanto à importância de uma efetiva  vivência  e de cultura geral mínima, para o bom exercício de carreiras jurídicas. E também quanto ao papel das artes em geral, na formação do jurista. A arte, nas suas variadas expressões, é um meio profundo de humanização da pessoa e do profissional. Muito já se disse sobre a arte. Para D’Uzarn-Freissinet, a “arte é o sentimento das coisas humanas unido ao pressentimento das coisas divinas” ou que “O fim da arte não é convencer, mas comover”, na opinião de Vargas Vila. Por certo,  razão também tinha Emile Zola, ao asseverar  que “a arte é a natureza vista através de um temperamento”.  O que a arte tem, no meu modo de entender, de mais positivo para o homem, é a demonstração ou  evidência de que há vários modos de vida, múltiplas formas de verdades racionais e sensíveis, enfoques, pensamentos, convidando todos nós,  a cada momento, a experimentar a sensação de um mundo de  diversidades e, pois,  da necessidade de pensar e respeitar todas as opiniões, todas as sensações, todas as opções. Pois bem, formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre e doutor em Literatura Inglesa pela mesma Universidade, o Doutor JOSÉ GARCEZ GHIRARDI (imagem emprestada ao site solteagravata.com),  é professor de um curso ou  disciplina, que não consta, nem do currículo mínimo imposto pelo Conselho Federal da Educação, nem do currículo expandido das maiores e principais Faculdades de Direito do país. Trata-se da disciplina, Artes e Direito, ou do curso que recebe esse nome, no Direito da Fundação Getúlio Vargas.  O tema é extremamente interessante e busca evidenciar a necessária conexão entre Arte e Direito,  e por ele acabei me interessando profundamente. Li a reportagem que o culto professor deu para o jornal Tribuna do Direito (ano 16, n. 201). Gharcez, ao tratar sobre a conexão ente Arte e Direito, considera que “A grande maravilha é que o outro é diferente, o outro é complexo, e o Direito precisa de alguma maneira coordenar, de maneira comum, a vida de pessoas que são diferentes. O grande interesse do curso de Artes e Direito é explorar o contínuo ideológico entre a arte e o Direito”.  Outras afirmações importantes que se colhe do texto da entrevista por ele concedida à repórter Eunice Nunes:  1) Não é possível ter bons advogados, bons juízes, bons promotores e procuradores, se não se tiver seres humanos, com uma formação ampla; 2 – A arte, justamente porque quebra o paradigma do Direito (que é muita linearidade verbal, a lógica de causa e consequência, a lógica demonstrativa), obriga a assumir uma posição em que o linear não predomina necessariamente, em que as conexões não são  de antes e depois, mas de simultaneidade, em que não há uma verdade única, mas uma pluralidade possível de verdades construídas, e ajuda a formar um jurista mais sensível; 3- Arcabouço simbólico é a maneira como se acredita que o mundo seja; 4 – A sensação de bem-estar, em grande parte, é uma sensação comparativa; 5- Será que a universalidade da lei, que é necessária,a impessoalidade, é o instrumento mais adequado para lidar com sociedades que são tão diversas, tão plurais, tão complexas como as atuais? Isso vai ficar para a discricionariedade dos juízes? Mas cadê a segurança da democracia? Como é que se resolve? Porque talvez não seja o ideal a lei ser universal, abstrata e impessoal, mas o que é melhor do que isso? Consegue-se sentir a incapacidade do sistema que temos, mas não se consegue formular um sistema que seja melhor.” Na entrevista o professor fala de sua experiência em sala de aula, com a utilização de vários instrumentos artísticos, dentre os quais filmes escolhidos pela temática e pela forma com que os roteiros exploram certas mensagens e visão do mundo e das coisas essenciais. Garcez acaba de lançar um livro, pela Editora Almedina, cujo título é O MUNDO FORA DE PRUMO: TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA EM SHAKESPEARE. E a escolha recaiu sobre o autor inglês pelo fato de que ele apresenta em sua obra “o embate entre estruturas simbólicas e desejo de expressão, sendo essa também uma angústia que se manifesta de maneira recorrente nos tempos atuais. Vamos conferir!

 Até amanhã amigos.

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