Boa tarde, amigos,
Estava agora à tarde, no balcão do Café Regina, aqui próximo de meu escritório, quando soube do falecimento do humorista Chico Anysio. Todos os que se encontravam ali, sem exceção, interromperam conversas, tragos de cigarros e goles de café para, de forma silenciosa e respeitosa, lerem a notícia nas legendas da GLN (Globo News), canal de assinatura da rede Globo, preferido por donos de bares, restaurantes e lanchonetes, por causa das notícias legendadas em rodapé, o que permite a dispensa de som nos ambientes já sonoros desses estabelecimentos. O óbito era mais ou menos esperado. Chico, de dois anos para cá, tinha vivido muito mais em UTIs. e apartamentos de hospitais, do que propriamente em casa ou no trabalho, que ele tanto enfrentou até os últimos dias, com garra, talento e disposição incríveis. A dor ou ao menos a contrariedade e o aborrecimento percebido nos rostos de todos aqueles que, como eu, ali ficaram sabendo do falecimento de Chico, demonstrava o quanto ele era familiar a todos nós e quanto ele tinha de popular, embora fizesse um humor inteligente e refinado. Chico era a prova de que se podia fazer humor sem apelações ou pastelões desnecessários e grosseiros. Difícil dizer qual Chico era mais interessante ou preferido do público: o Chico do banquinho, sem fantasias ou máscaras, falando, de cara limpa de maquiagem, um monólogo de ironia, fazendo graça com o cotidiano da vida política, artística ou do povo brasileiro em geral, num palco de teatro, ou na abertura do Fantástico de vinte anos atrás , ou se o Chico travestido em centenas de personagens, tipos que a gente e também as novas gerações aprenderam a identificar, gostar e rir: Bozó (com o seu indefectível “Eu trabalho na Globo”), o vampiro Bento Carneiro, Haroldo, um gay que se dizia convertido a hetero, o deputado Justo Veríssimo, o Pastor Tim Jones, o matuto Pantaleão (É mentira Terta?), Tavares, o Silva, Urbulino, o velho Popó com suas ranhetices, o ator cafona de redinha na cabeça, Alberto Roberto, a gaúcha politizada Salomé, que falava com os Presidentes da República etc. e outros tantos. Chico, mais recentemente (isto de uns 20 anos para cá, considerada a sua vasta carreira) passou a ser com mais freqüência o Professor da Escolinha do Professor Raimundo, um programa que foi por ele recriado para prestigiar e empregar uma série de comediantes de sua geração, ou da geração ainda anterior, que estavam esquecidos ou desempregados e também da geração mais jovem, gente que precisava de oportunidade para mostrar seu talento, como o Nerso da Capitinga e Tom Cavalcante, este apontado pelo próprio Chico, em certa época, como seu sucessor. Seu nome completo era Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, um cearense nascido em Maranguape, no dia 12 de abril de 1.931 e que faria no mês que vem, 81 anos de idade. Chico foi humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor, deixando uma vastíssima obra cultural que jamais será esquecida do povo brasileiro. Perde o Brasil sem dúvida um dos maiores, senão o maior humorista da era do rádio e da televisão, ao lado de Jô Soares. Descanse o seu merecido descanso caro e amado Chico. Obrigado por você ter co-existido entre nós. Obrigado pela honrosa contemporaneidade.
P.S. (1) Uma frase de Chico Anysio: “Claro que eu tenho depressão. Tive seis mulheres, nove filhos e dez netos. Se eu não tivesse depressão, teriam de me internar, porque eu seria um psicopata”
P. S. (2) Outra frase de Chico: “No Brasil de hoje, os cidadãos têm medo do futuro. Os políticos têm medo do passado”
P.S. (3) A imagem que ilustra a coluna é do personagem "Alberto Roberto" e foi emprestada do blog "apatotadopitaco.blogspot.com"
Até mais tarde.
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