Boa tarde amigos,
Está em Campinas, em estréia nacional, no Teatro Amil do Shopping Center Dom Pedro, a obra de dramaturgia denominada EQUUS (Cavalos, do latim para o português), de Peter Shaffer, vencedor do prêmio Tony. Trata-se de uma peça de teatro escrita na Inglaterra em 1.973, que conta a história de um psiquiatra forense encarregado de descobrir as causas e, bem assim, tratar um adolescente que teria cegado cinco cavalos, sem explicação lógica alguma para o estranho e bárbaro comportamento. O autor inglês inspirou-se num crime real, mas sobre ele fez um relato fictício do que poderia ter causado o incidente, mesmo porque não conhecia qualquer detalhe do delito. O resultado é um texto belíssimo, forte, que visa perscrutar o misterioso mundo interior das pessoas, estabelecendo franco embate entre o instinto e a razão, ilustrado pelas fantasias patológicas do adolescente Adan Strang, que revela um fascínio sexual e religioso por cavalos. À medida em que a relação entre o jovem e o psiquiatra vai se estreitando, durante o difícil tratamento, o profissional também passa a questionar (e a ser questionado pelo paciente) a respeito de sua própria vida, da validade ou não dos tratamentos dispensados aos que convencionalmente são considerados anormais, as hipocrisias sociais fruto da necessidade de cumprir rituais e trabalhar verdades preconcebidas, e de seu real envolvimento afetivo com a psiquiatria e seus pacientes. Há passagens impagáveis, como a que Martyn em diálogocom a Juíza encarregada do caso, afirma: “Nós médicos podemos matar uma paixão. Mas jamais seremos capazes de criar uma paixão.” O psiquiatra é representado pelo velho Elias Andreato em desempenho irretocável. O adolescente é encarnado pelo ator Leonardo Miggiorin (que estreou em televisão na célebre minissérie da TV Globo, Presença de Anita, como Zézinho, um adolescente cheio de espinhas, contracenando, naquela oportunidade, com o veterano ator José Mayer e com a também novata atriz Mel Lisboa (Anita ou Cyntia). A direção do espetáculo, na sua nova versão, ficou a cargo do campineiro Alexandre Reinecke, um dos mais talentosos atores e diretores da nova geração, e que dirigiu gente do mais alto quilate, como Beatriz Segal e Natália Thimberg, dentre outros monstros sagrados. Leonardo Miggiorin é uma grata surpresa como intérprete dramático, dando vida a um personagem marcante e difícil de ser realizado. Os cenários simples, poucos e bem concebidos são movimentados, durante a exibição, pelos próprios atores, como eles mesmos representam, de forma estilizada, os animais vítimas de Alan. É teatro puro, belo, em que os atores é que fazem o verdadeiro espetáculo. Não deixe de ver esse drama psicológico consagrado. A peça está em cartaz nos finais de semana, no horário das 21,00 horas às sextas e sábados e de 19,00 horas, aos domingos, até 1º de abril. O próximo final de semana, portanto, será o último em exibição na cidade de Campinas, devendo seguir carreira após, pelo Brasil.
Notas.
P.S. (1) O diretor Alexandre Reinecke, ao falar sobre a peça, assinalou em entrevista ao Correio Popular, jornal de Campinas “A peça é um grande clássico, já foi montado no mundo inteiro e com grande aceitação. Aqui ela é tratada de uma maneira diferente da forma como foi da primeira vez com Paulo Autran, em 1.976, pois hoje nós temos outra relação com a psicanálise. A diferença não é no texto, é na recepção do público, que é outra. É mais contemporânea.”
P.S. (2) Para Leonardo Miggiorin, o personagem exige muito e está sempre em construção. “O mundo inteiro deste cara tem que ser percebido como um todo, pois ele tem uma faísca de loucura, de vida”, desabafa.
P.S. (3) Elias Andreato, que faz o psiquiatra, analisa o contexto da história: “Neste encontro o psiquiatra descobre uma ausência de amor pela profissão. A gente não pode abrir mão destas paixões, deste amor profundo, pelo que nós somos e pelo que fazemos. A peça oferece isso. É onde o espectador olha pelo buraco da fechadura e vê o que ele tem de animal e de ausência de paixão dentro dele. É um espetáculo onde a família pode se identificar, pois fala de várias violências e não só de cegar animais, mas de se cegar, se fechar para o amor”.
P.S. (4) A peça esteve em cartaz na Inglaterra e no mundo nos anos 70, quando foi escrita pelo autor. Em Campinas, foi encenada no Teatro Castro Mendes, na Vila Industrial, atualmente em reforma. Naquela oportunidade o papel do psiquiatra, Martin Dysart foi desempenhado pelo inesquecível ator dramático, Paulo Autran. O do jovem adolescente, Alan por Paulo Guarnieri (filho do saudoso ator e diretor, Gianfrancesco Guarnieri). Quem se lembra perfeitamente disso é a minha irmã, Leny, que garante que estivemos presentes numa das apresentações.
P.S. (5) O drama foi recentemente encenado novamente na Inglaterra e nos Estados Unidos. O adolescente foi representado, no palco, pelo ator Daniel Radcliffe, o Harry Potter do cinema e causou muitos rumores, não só pelo bom desempenho que o teria consagrado, como também pelo fato de que o personagem fica completamente nú, durante parte do desenrolar do drama;
P. S. (6) Também o ator Leonardo Miggiorin, em interpretação excelente, fica nú em cena, como no original, tendo confessado que quando recebeu o convite sentiu certo constrangimento, mas depois, na medida em que foram se passando os ensaios foi descontraíndo, atento à beleza do personagem e do texto, circunstância que absorvem o impacto da nudez, que fica num segundo plano;
P. S. (7) Em 1.977, a peça escrita para o teatro cinco anos antes, foi parar no cinema. O filme Equus, foi dirigido por Sidney Lumet e os papéis do psiquiatra Martin Dysart e do jovem Alan Strang, foram desempenhados, respectivamente, por Richard Burton e Peter Firth. Ambos os atores foram premiados com o Globo de Ouro inglês de 1.978, como melhor ator de cinema dramático e melhor ator coadjuvante, ainda respectivamente.
P.S. (8) A primeira imagem mostra a versão atual da peça encenada na Inglaterra e Estados Unidos, com o ator Daniel Radclliffe no papel do adolescente Alan Strang e foi emprestada do site oconfessionario.wordpress.com. A imagem n. 2, embaixo à esquerda, é da versão nacional com Leonardo Miggiorin no mesmo papel. Foi extraída do site campinas.com.br. A 3a. imagem, emprestada do site gosepbr.webnade.com.br, mostra a apresentadora Ana Hickmann com o modelo Miro Moreira em reprodução de cena da peça, para fazer publicidade da Equus, uma parceria de mais de três anos entre a bela apresentadora da TV Record com uma grife de moda. Foi gravada em Ilha Bela , litoral de São Paulo.
Até amanhã.
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