Boa noite amigos. Na pauta de hoje um conto ou uma crônica, não sei, sobre uma figura que foi marcante na minha adolescência e que reencontrei agora, depois de muitos anos, embora o tenha encontrado eventualmente, ele como advogado, eu como Juiz, durante a minha judicatura em Campinas. Há muitos anos, porém, que não o via. Trata-se do advogado Doutor Roberto Jacob Chaib:
"1.966. Estava eu feliz e ressabiado. Feliz por ter finalmente conseguido uma vaga como auxiliar no Cartório do 5º Ofício de Campinas, com apenas 13 anos de idade. Tinha batalhado por essa chance, porque queria fazer Direito e a oportunidade de trabalhar no Fórum, especialmente na área judicial, era extremamente importante no meu modesto projeto de vida. Ressabiado, porque não tinha noção do que fosse um Cartório e suas funções. Nem da natureza dos serviços, nem da linguagem usada nas petições pelos advogados, e nas sentenças pelos juízes. Fiquei na minha. O primeiro despacho que eu li dizia que era para devolver a carta precatória, “com as nossas homenagens”. E eu pensei logo que ia haver uma festa para entregar a tal precatória, vejam só! Nos primeiros dias surgiu, no horário de expediente, um advogado baixinho, de vastos bigodes e muito falante. Aproximou-se do balcão e gritou: - Quem é que vai me atender cambada? Assustei com a figura exótica, aos berros. Antes que alguém pudesse responder, o tal advogado abriu a portinhola que separava o balcão do ambiente interno, invadiu a área destinada aos nossos serviços, olhou para a minha cara e disparou: - Quem é você? Eu te conheço? Eu me encolhi e não sabia o que responder: Afinal quem era eu, mesmo? Um insignificante garoto de poucos dias de serviço e que não entendia nada de nada. Respondi, quase balbuciando: - Eu sou um funcionário novo aqui, meu nome é Jamil. E ele: - Grande coisa, o que você pensa que é aqui para me desafiar? E eu já quase chorando: - Não, não senhor, eu não sei do que o senhor está falando. Posso lhe ser útil? Sem responder nada, o tal baixinho endiabrado subiu num das mesas e começou a discursar: - Isto aqui não tem jeito, mesmo. Só fechando essa baiúca. Eu vou denunciar todos vocês na Corregedoria. Olhei para os meus colegas e superiores. Estavam todos tranqüilos, muitos riam. E eu sem entender nada. Foi um grande susto. Quase não voltei no dia seguinte para trabalhar. Mas meus colegas, calmos, algum tempo depois me explicaram que aquele era o Dr. ROBERTO JACOB CHAIB, um advogado militante na Comarca e que era muito brincalhão. Todos o conheciam ali. Menos eu. Ano de 2.011. No domingo retrasado, num varejão do Cambuí, encontrei-me com o Dr. Chaib e sua esposa. Ele continuava impecável. Baixinho, com vastos bigodes, terninho engomado, sem cabelos brancos (suponho que os pinte) e com o mesmo senso de humor escrachado. Perguntei à mulher dele se ele estava bem de saúde. E ela me respondeu que sim, apesar do diabetes. E que contava 82 anos. Ele se aproximou. Olhou para mim e disse: - Como vai Doutor? Eu sorri e lhe respondi que ia bem. Não custou nada para, na presença do gerente do estabelecimento, ele vociferar: - Olha aqui seu coiso, você vai me atender primeiro ou não? Só porque esse senhor aqui é Juiz, o senhor vai atender ele primeiro? Piscou para mim e continuou: - Viu seu coiso, ele foi um grande Juiz. Mas já está aposentado. Não vale mais nada, entendeu? E eu pensei cá comigo. É o Dr. Roberto Jacob Chaib. O Chaib de sempre. Bem com a vida e com o mesmo senso de humor. Saúde para você Dr. Roberto Jacob Chaib. Bom reencontrá-lo."
Até amanhã.
Até amanhã.
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