sexta-feira, 24 de junho de 2011

NEY MATOGROSSO - INCLASSIFICÁVEIS

Boa noite amigos.
Sexta-feira de inverno, não tão frio, intercalada entre o feriado de quinta e o final de semana. Para quem não foi para a praia, montanha, ou para o interior, numa dessas estâncias tão badaladas, especialmente para o pessoal de terceira idade, o jeito foi ficar em casa mesmo, curtindo a casa e os familiares. Ler um bom livro ou ver um filme, ou ainda preparar um bolo de fubá para o café da tarde, é sempre um programa benvindo. Aproveitei para corrigir provas e ao mesmo tempo ver um DVD que ganhei há muito tempo, mas até agora não tive tempo de ver. Gravado no Canecão em janeiro de 2.008, durante temporada do artista, INCLASSIFICÁVEIS, do show homônimo, mostra um NEY MATOGROSSO maduro e versátil.

INCLASSIFICÁVEIS
Acima foto da capa do DVD, do talentoso fotógrafo,  Ary Brant. O DVD e o CD não poderiam ter um nome mais pertinente para o caso do show: Inclassificáveis, uma das músicas selecionadas e cantadas por Ney, de autoria de Arnaldo Antunes, que participa também do projeto e que fala do povo que restou da nossa civilização miscigenada: "Aqui somos mestiços mulatos/ Cafuzos pardos tapuaias tupinamboclos/ Americarataís Yorubárbaros/ Somos o que somos/ Inclassificáveis? O projeto junta músicas do passado e do presente, do que se poderia chamar de brega ou de chique, de vários compositores e estilos. Em suma: uma seleção inclassificável também  do ponto de vista de qualquer escola musical. De Cazuza a Marcelo Camelo. De Edu Lobo e Chico Buarque a Jair Oliveira, de Itamar Assumpção  a Claudio Monjope, dentre outros, Ney de certa forma volta ao seu estilo originário, abandonado em determinado período em que o cantor preferiu interpretar compositores consagrados, de cara limpa e roupa comum, no palco.  No espetáculo,  Ney retorna com sua exótica figura, dos  bons tempos de Secos e Molhados, vestindo figurinos de Ocimar Versolatto, com direito a muito paetês e lantejoulas, sobre o esguio corpo conservado de nada mais, nada menos do que  70 anos. No palco brinca, brilha, canta e encanta. Não perde em momento algum a sensualidade. Ney, sem dúvida, é um magnífico cantor, com muitas possibilidades, mas sua música, no palco, é mais rica e  intensa, por causa da coreografia e da força da presença cênica. Um cantor-ator ou um ator-cantor, como queiram. A direção do espetáculo é do próprio Ney e a produção de João Mário Linhares. Emílio Carrera, que foi colaborador nos tempos do conjunto, também presta contribuição ao projeto. Registre-se, ainda, a presença de uma banda jovem que enriquece o espetáculo, inclusive pelos arranjos feitos para várias composições. São eles: DJ Tubarão (percussão e pick up), Felipe Roseno (percussão), Júnior Meirelles (guitarra, violão e vocal), Carlinhos Noronha (baixo e violão), Emilio Carrera (piano, teclado e direção musical) e Sérgio Machado (bateria). Do velho e saudoso amigo Cazuza e parceria com Frejat, Ney começa o espetáculo com o TEMPO NÃO PÁRA    e termina com PRO DIA NASCER FELIZ,  interpretado com alegria saltitante e arrancando aplausos efusivos da platéia. No meio do show, mais Cazuza (Ezequiel Neves/Frejat): PORQUE A GENTE É ASSIM. É forte e personalíssima a interpretação de Ney para o popular UM POUCO DE CALOR de Dan Nakagawa, música de trabalho do CD na ocasião do lançamento, e que a gente não evita cantarolar com ele, o repetido refrão /Meu Carro que não quer mais pegar/ E a noite que não quer terminar/ Onde está você meu amor/ Eu preciso de um pouco de calor/  e para o contagioso e otimista,  SIMPLES DESEJO, de Jair Oliveira e Daniel Carlomagno, popularizado na voz da filha de Jair Rodrigues, Luciana Mello: /Legal ficar sorrindo à toa, toa/ Sorrir pra qualquer pessoa/ Andar sem rumo na rua... Hoje eu só quero que o dia termine bem/ O palco se transforma em ambiente circunspecto e apreensivo para ODE AOS RATOS, de Edu e Chico, que Ney interpreta com sincera emoção e profunda seriedade, acompanhado pelo magnífcio arranjo feito especialmente para a canção. Tem mais: CAVALEIRO DE ARUANDA (Tony Osanah), CORAGEM CORAÇÃO (Cláudio Monjope/Carlos Rennó). De Carlos Rennó outra música: LEMA, em parceria com Lokua Kanza. E de Iara Rennó (Alice Ruiz), LEVE.  Notabilizado pela escolha de repertório de bom gosto, não poderia faltar a música inconfundível de Itamar Assumpção, de quem Ney empresta duas das obras musicais. O belíssimo OUÇA-ME e EXISTEM COISAS NA VIDA (Existem coisas na vida/ Que até Deus Duvida....). Em MENTE, MENTE, de Robson Borba, Ney se debruça sobre o divã, vira, revira e suscita suspiros da platéia. Uma platéia que vê, em certa altura do show, o seu ídolo descer do palco e dançar por entre as mesas, concedendo aos espectadores, olhares próximos intimistas e provocadoramente sensuais. Na regravação de DIVINO MARAVILHOSO, uma espécie de hino da Tropicália dos anos 70, em nada Ney lembra o tom forte e agressivo com que a canção ficou marcada na memorável interpretação raivosa de GAL COSTA: /É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte/ É forte sim, porque a interpretação de Ney é sempre forte, mas é mais suave na transmissão da mensagem. Não há revolta, não há desafio, não há mais ditadura, nem ameaça, também. Há mais  conselho, mais ternura. Ah, ouvir VEJA BEM, MEU BEM, de Marcelo Camelo, na voz  de Ney, depois da consagrada gravação de Maria Rita, é muito bom,  sem fazer comparações. Enfim, um DVD (em se tratando de Ney é melhor o DVD do que o CD, pelas razões que já enfatizei), que traz um espetáculo variado, de um artista indiscutivelmente talentoso e autêntico, com aquela presença cênica marcante e cheia de contrastes, cantando músicas de boa qualidade, com estilo próprio. Um inclassificável que pode ser classificado como bom. De bom para ótimo.

Até amanhã.

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