Boa noite gente boa. Hoje é dia de contar "causo". Escolhi um que está publicado no livro Causas & Causos, de minha autoria, lançado pela Editora Millenium, Campinas, (SP), em 2.006. Trata das distintíssimas galinhas caipiras, que podem ser vistas aí na foto ao lado. Boas para qualquer prato. Melhor ainda para a tal galinhada, prato saboroso, cuja origem ainda é discutida. Muitos afirmam que a galinhada tradicional tem origem em Goiás. Outros, afiançam que ela é de Minas. De qualquer forma, apreciei muito esse prato quando fui Juiz em Angatuba, pois também goza da predileção da gente boa e simples do interior de São Paulo. E se for galinha furtada, mais gostosa fica, segundo a lenda. E com uma pinguinha, então? Bem, vamos ao tal "causo" que é verdadeiro e tudo o mais:
"A GALINHA FAMINTA
“Mentiras sinceras me interessam. Me interessam”. (Cazuza).
Primário e de bons antecedentes, já entrando na terceira idade, pesava-lhe a imputação de tentativa de furto.
E ainda por cima de furto de uma galinha!
A indignação era proporcional à indignidade da situação.
A única coisa que aliviava um pouco a sensação de vergonha e idiotice era o fato de que o furto de galinha naquela região, a par de ser relativamente comum, se não contava com expressa aprovação da comunidade, também não era caso de grave censura.
Mas, como é próprio do Brasil, o herói que é apanhado em flagrante, perde a admiração popular, substituída por um certo desprezo ou menoscabo.
De qualquer forma, a noite passada na incômoda e fria cela, dividida apenas com algumas formigas e uma barata, tinha sido pesada para o Josias.
E o compadre, hein!
Depois de anos de camaradagem e amizade não teve pecha de lhe entregar à polícia.
E os filhos? E os netos?
Não havia jeito.
Tinha que haver alguma explicação
plausível.
No dia seguinte, à tarde, o carcereiro vem buscá-lo.
O Juiz recebera a denúncia e marcara incontinenti o interrogatório.
Esses fatos são verdadeiros?
O Josias olha para o Juiz, olha para os dois lados, fita o Promotor de Justiça, o Advogado dativo que lhe arrumaram, o seu ingrato compadre e não tem dúvidas:
- Olha, seu Juiz. Eu sô hóme de respeito. Já não sô criança. Tudo mundo aqui me conhece. Eu não sô hóme de fazê coisa errada. Tenho fios e netos. Eu sô trabaiador. Eu não queria roubar galinha nenhuma.
- Não?
Seguiu-se um minuto de silêncio.
E o Josias, sem nenhuma cerimônia e ignorando o olhar estupefato da galera, vira para o cumpadre e remata:
- Oia cumpadré. Tome vergonha nessa cara e dê cumida pressas galinhas sô!"
Boa noite e até amanhã.
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