terça-feira, 26 de abril de 2011

MPB - DRAMA - MARIA BETHÂNIA - 1972.

Boa noite amigos.
Vamos falar um pouco de  Música Popular e  o comentário de hoje é sobre um disco histórico de Maria Bethânia, do ano de 1.972: Drama.
SÉRIE MPB – DISCOS MEMORÁVEIS
MARIA BETHÂNIA – DRAMA – 1972 – PHILIPS.
Ao retornar de Londres, no ano de 1.972 e de exílio imposto pela ditadura militar,  Caetano Veloso,  produziu o disco da irmã Maria Bethânia, batizado de Drama (ação, em grego), um marco na discografia da grande cantora e intérprete da música brasileira. Bethânia, que idealizou e integrou o grupo conhecido como Doces Bárbaros, com  Gil, Caetano e Gal, uma típica banda hippie dos anos 60, foi e tem sido  muito mais doce do que bárbara, mais cerimoniosa e ortodoxa na escolha de seu repertório  e na maneira de interpretação, que seus companheiros,  apesar de sua estréia no teatro Opinião, substituindo Nara Leão, no qual ficou conhecida no Brasil inteiro cantando  a música Carcará, um protesto vindo do Nordeste.  É que Bethânia sempre foi cantora e atriz, preferindo ficar à margem de movimentos cults. ou políticos, ao contrário do irmão Caetano.  Escolheu o repertório e gravou o que quis. E quis tudo. Um tudo variado. De boleros a valsas. De sambas a fados. Neste disco de 12 faixas, Bethânia inicia com PONTO música do folclore baiano, de letra curta e que parece querer provocar o regime autoritário daquela época: /Sou eu que me deito tarde/ Sou eu que levanto cedo/ Sou eu que realço tudo/ Sou eu que não tenho medo/, para na faixa seguinte fazer um “mix” da vetusta valsa Bodas de Prata, de Roberto Martins e Mário Rossi /Beijando teus lindos cabelos/ que a neve do tempo marcou/ eu tenho nos olhos molhados/ a imagem que nada mudou/ com a  extraordinária canção inédita feita por Caetano para ela, Esse Cara, estilo bossa-nova,  carro chefe do LP de lançamento em vinil /Ah, esse cara tem me consumido/ A mim e a tudo que eu quis/ com seus olhinhos infantis/ como os olhos de um bandido.... /Ele está na minha vida porque quer/eu estou pra o que der e vier/ele chega ao anoitecer/Quando vem a madrugada ele some/Ele é quem quer/Ele é o homem/Eu sou apenas uma mulher.   Na faixa 3, a regravação de Volta por Cima, um samba  de Paulo Vanzolini de 1.960,  e na faixa 4, Bom Dia, um clássico samba-canção de  Herivelto Martins e Aldo Cabral, composto em 1.942, para a voz de Dalva de Oliveira: /Nem no frio apartamento. Deixaste um eco, um alento. Da tua voz tão querida/ E eu conclui num repente/Que o amor é simplesmente/ O ridículo da vida... O tropicalista Jards Macalé aparece na faixa 5, com Anjo Exterminado, uma música romântica, bem ao estilo da cantora, que se supera nesse gênero (vide a sua gravação de CD específico só com músicas de Roberto Carlos e o original toque que dá ao sucesso de Zezé de Camargo “É o Amor”). Um fado garimpado do repertório da diva Amália Rodrigues,  marca a faixa de n. 6, Maldição, de Alfredo Duarte, com versos de Armando Vieira Pinto. E enquanto na gravação de Amália predomina arranjo em que suplantam as guitarras de Fontes Rocha e Raul Nery e a viola de Castro Mota, durante todo o tempo, marcando a musicalidade e a tristeza do fundo de alma própria do gênero, na versão de Bethânia, completamente diferente, prevalece  batida de fundo do baixo, tons da flauta e do violão (às vezes). Na maior parte Bethânia quase declama os versos em tom forte e apreensivo, sem música: /Que destino ou maldição/Manda em nós, meu coração?/Um do outro assim perdido/Somos dois gritos calados/Dois fados desencontrados/Dois amantes desunidos.../ Vale a pena comparar as duas versões , de duas magníficas cantoras. Iansã é uma poética canção de Caetano e Gil, feita em homenagem à deusas dos raios e à religiosidade de Bethânia e que ela declama de maneira expressiva e  enfática. Visceral, no entanto, é a interpretação  de Drama, que Caetano fez também para ela e que dá título ao LP. / ... Dessa garganta, tudo se canta/ Quem me ama/ quem me ama/ Adeus, meu olho é todo teu/ Meu gesto é no momento exato/ Em que te mato/.... /Drama/ E ao fim de cada ato/ Limpo num pano de prato/ As mãos sujas do sangue das canções/. Destaque ainda para a  suave Trampolim, cuja letra é assinada pela própria cantora, junto com o irmão Caetano e a música do palhaço Batatinha, O Circo (Todo mundo vai ao circo, menos eu, menos eu), e para Negror dos Tempos, também de Caetano, e que revela, como as demais letras (à exceção de Esse Cara), o humor negro e ácido de quem passou anos fora de seu país, em exílio forçado: /Quando eu vejo você/Com seus olhos de vaca/Com seus grandes olhos de vaca/ Com seus olhos de vaca triste/ Menina triste do meu amor/..... /Sinto todo o amor. Sinto todo o terror/ Do negror destes tempos/  Ponto alto do disco (agora CD) é, sem dúvida, Estácio, holli, Estácio, do inesquecível Luis Melodia, e com a marca de Luiz Melodia. Bethânia interpreta a canção  com a participação do Terra Trio. A direção de estúdio é de Roberto Menescal. Os arranjos de Perinho de Albuquerque (guitarra e violão), com Moacir no  baixo,  Antonio Perna, no piano, Tutti Moreno, na bateria e Tuzé de Abreu na flauta. Quer no vinil, quer no CD, que já pode ser adquirido nas lojas do gênero, trata-se de um disco  antológico e que não pode faltar na discografia dos grandes colecionadores e ouvintes da boa música popular brasileira, de uma das maiores cantoras e interpretes de todos os tempos, sua Majestade Maria Bethânia Viana Teles Veloso, ou simplesmente, Maria Bethânia.

Boa noite e até amanhã.

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